As Marchas de Lisboa

DiarioLisboa35marchasAs Marchas de Lisboa na noite de Santo António tiveram início em 1932, por iniciativa de Leitão de Barros, instigado pelo administrador do Parque Mayer – Dr. Campos Figueira, segundo o Professor Appio Sottomayor – o grande olisipógrafo e estudioso da história de Lisboa e das suas Marchas e, cultor da memória de Norberto de Araújo [cf. Lisboa Marcha há 80 Anos].

Ouçamos pois o Professor Appio Sottomayor segundo o qual, um dos grandes méritos de Leitão de Barros foi em anos posteriores, designadamente, em 1935, 1940 e 1947, ter sabido «…reunir à sua volta outros amantes de Lisboa que tiveram larga influência no lançamento dos desfiles que há oito décadas povoam a imaginação e o labor de uma boa parte da cidade. Um dos primeiros nomes a ser lembrado foi o de Norberto de Araújo…» o qual, «Numa actividade fervilhante, além de ter marcado a sua época como repórter de enorme qualidade, ainda arranjou tempo para ser romancista, autor teatral e poeta popular. Em prol das marchas, além de usar o seu “Diário de Lisboa” como tribuna de propaganda, percorreu os bairros interessados um por um, procurando chamar a atenção das colectividades organizadoras para as características próprias e a história de cada um. Era preciso que as marchas fossem essencialmente lisboetas e, portanto, que cada uma delas mostrasse o que tinha de particular. A título de curiosidade, diga-se ainda que, não se contentando com toda esta actividade, Norberto ainda formou uma célebre parceria com o maestro Raul Ferrão. Ele fazia as letras e Ferrão as músicas. E assim nasceram, entre outras, marchas que, passados tantos anos, ainda hoje andam nas bocas e nos ouvidos de muita gente. “Olha o manjerico”, a marcha do centenário de 1947 (“Lisboa nasceu /pertinho do céu…”, “Ó noite de Santo António / ó Lisboa de encantar…” e talvez a mais popular de todas, “Lá vai Lisboa / co’a saia cor do mar…”».

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20121205155242_00005Com efeito, Norberto de Araújo alfacinha de gema e de coração não hesitou em abraçar de corpo e alma esta tarefa de forma entusiástica e contagiante Em 1934, fez parte como vogal da Comissão Executiva das Festas de Lisboa que tinha como Presidente de Honra o Tenente-Coronel H. Linhares de Lima, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa (1933-1934), como Presidente Luiz Pastor de Macedo e como vogais D. Amélia Rey Colaço, A. R. de Almeida Santos, Joaquim Leitão, Dr. José de Figueiredo, José maria Alvaréz, Dr. José Pontes, Leitão de Barros, Luiz Teixeira, Mário Alves, Matos Sequeira, Roque da Fonseca e o Dr. Rodrigues Cavalheiro, como secretário.

20121205155242_00006Integrou igualmente como secretário, o Júri das Marchas dos Bairros, presidida pelo Tenente-Coronel Linhares de Lima, tendo como vice-presidente o pintor Roque Gameiro e como vogais D. Aura Abranches, D. Beatriz Costa, Prof. António Pinheiro, Dr. Campos Figueira, Erico Braga, Franco de Carvalho, Joaquim Leitão e, Prof. Tomás Borba.

Em 1935 foi de sua autoria a letra da Grande Marcha de Lisboa, com música de Raúl Ferrão imortalizadas por Beatriz Costa e Maria José Valério.

Em 1940, ano das Comemorações dos Centenários Luíz Pastor de Macedo assumiu a direcção das Marchas Populares dos Bairros, pela Comissão Executiva dos Centenários, que era presidida pelo Dr. Júlio Dantas e, Norberto de Araújo foi o delegado realizador.

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Nesse ano a Grande Marcha Nova foi de sua autoria com música original de Raúl Ferrão.

Nesse ano também, a Marcha Nova da Mouraria, teve versos de de Frederico de Brito e de Norberto de Araújo, com música de Raúl Ferrão, que acabaria por obter o 2º prémio – prémio de bairrismo. Também o Bailarico de Benfica com música de Mateus Júnior e letra de Norverto de Araújo.

Ensaio das Marchas de 1947 - Raúl Ferrão, Norberto de Araújo e João Nobre ao piano. 7.02.1942 (Arquivo Norberto de Araújo)

Ensaio das Marchas de 1947 – Raúl Ferrão, Norberto de Araújo e João Nobre ao piano. 7.02.1942 (Arquivo Norberto de Araújo)

20121205155242_00001Em 1947, nas Comemorações do VIII Centenário da Tomada de Lisboa , a Grande Marcha do Centenário, com música de Raúl Ferrão teve versos de Norberto de Araújo:

Lisboa nasceu

pertinho do céu

toda embalada de Fé.

Lavou-se no rio,

ai, ai, ai, menina,

foi baptizada na Sé

Já se fez mulher,

e hoje o que ela quer

é trovar e dar ao pé.

Anda em desvario,

ai, ai, ai, menina,

mas que linda que ela é!

(Estribilho)

O seu labor era intenso, congregando esforços e vontades, e cedendo instalações em sua casa em Campolide, na Rua Vítor Bastos, para a confecção dos trajes de vários Bairros, recorrendo a voluntárias que costuravam os trajes de acordo com figurinos previamente desenhados e pintados a aguarela por artistas amigos de Norberto de Araujo, tais como Eduardo Galhardo, cujos originais se conservam no Arquivo Norberto Araújo.

Seu neto o Professor Doutor Jorge Quina Ribeiro de Araújo, recorda-se também de assistir em casa do avô, ao maestro Raúl Ferrão a ensaiar as músicas e as letras das marchas que sua mãe – D. Júlia Quina Ribeiro de Araujo – entoava e cantava. Quando tudo se quedava afinado, partiam dali para as sedes das associações de bairro para tocarem e cantarem a marcha na presença e com a participação da respectiva madrinha.

No Arquivo de Norberto de Araújo existe uma preciosa colecção de figurinos dos trajes das Marchas Populares, de 1940, 1947 e 1950, em aguarelas de Martins Barata, Moreira e Eduardo Galhardo.