Amália Rodrigues – Não é desgraça ser pobre
Letra de Norberto de Araújo
[youtube http://www.youtube.com/watch?v=cRw0DPhXHsQ]Não é desgraça ser pobre, não é desgraça ser louca:
desgraça é trazer o fado
no coração e na boca.
Nesta vida desvairada,
ser feliz é coisa pouca.
Se as loucas não sentem nada,
não é desgraça ser louca.
Ao nascer trouxe uma estrela;
nela o destino traçado.
Não foi desgraça trazé-la:
desgraça é trazer o fado.
Desgraça é andar a gente
de tanto cantar, já rouca,
e o fado, teimosamente,
no coração e na boca.
Lenço Perdido
Lencinho, branco lencinho,
que eu vi cahido no chão
e que do chão apanhei.
Eras dela – eu adivinho,
mas se eras p’ra mim ou não
não posso dizer, não sei
O teu perfume é saudade,
que quanto mais longe vai,
mais me prende e me sustem.
Com que doçura me invade!
Com que sedução me atrai!
É d’ela… conheço-o bem.
Lencinho, branco lencinho,
de seda rendada em fio
onde uma letra realça.
Quanta vez tu foste o ninho
onde a sua alma dormiu
depois da última valsa
Foste um confidente q’rido,
ela trouxe-te no peito,
sentiste-lhe o peito arfar.
E ainda hoje eu duvido,
se me foi dado o direito,
de te poder apanhar.
Lencinho, branco lencinho,
não estranhes, amigo meu,
que eu te queira tanto assim.
Tu tiveste o seu carinho,
e os beijos que ela te deu,
eu sei lé se eram pr’a mim.
Em noites de febre então,
eu vendo-te rir, a ti,
sobre a almofada do leito,
tenho a doida ilusão,
que é ela quem me sorri,
que é ela com quem me deito.
Lencinho branco lencinho,
que alguma fada ditosa,
de seus amores foi fiando,
na tua seda de arminho,
quantos sonhos cor-de-rosa
não desfez ela chorando.
Quanta loucura lhe ouviste?
Quanto riso te guardaste
da sua boca tão bela?
Tu tens razão para ser triste!
Mas supõe que nunca a amaste,
choremos ambos por ele.