O Poeta – Não é desgraça ser pobre

Amália RodriguesNão é desgraça ser pobre

Letra de Norberto de Araújo

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Não é desgraça ser pobre, não é desgraça ser louca:
desgraça é trazer o fado
no coração e na boca.

Nesta vida desvairada,
ser feliz é coisa pouca.
Se as loucas não sentem nada,
não é desgraça ser louca.

Ao nascer trouxe uma estrela;
nela o destino traçado.
Não foi desgraça trazé-la:
desgraça é trazer o fado.

Desgraça é andar a gente
de tanto cantar, já rouca,
e o fado, teimosamente,
no coração e na boca.

Lenço Perdido

Lencinho, branco lencinho,

que eu vi cahido no chão

e que do chão apanhei.

Eras dela – eu adivinho,

mas se eras p’ra mim ou não

não posso dizer, não sei

O teu perfume é saudade,

que quanto mais longe vai,

mais me prende e me sustem.

Com que doçura me invade!

Com que sedução me atrai!

É d’ela… conheço-o bem.

Lencinho, branco lencinho,

de seda rendada em fio

onde uma letra realça.

Quanta vez tu foste o ninho

onde a sua alma dormiu

depois da última valsa

Foste um confidente q’rido,

ela trouxe-te no peito,

sentiste-lhe o peito arfar.

E ainda hoje eu duvido,

se me foi dado o direito,

de te poder apanhar.

Lencinho, branco lencinho,

não estranhes, amigo meu,

que eu te queira tanto assim.

Tu tiveste o seu carinho,

e os beijos que ela te deu,

eu sei lé se eram pr’a mim.

Em noites de febre então,

eu vendo-te rir, a ti,

sobre a almofada do leito,

tenho a doida ilusão,

que é ela quem me sorri,

que é ela com quem me deito.

Lencinho branco lencinho,

que alguma fada ditosa,

de seus amores foi fiando,

na tua seda de arminho,

quantos sonhos cor-de-rosa

não desfez ela chorando.

Quanta loucura lhe ouviste?

Quanto riso te guardaste

da sua boca tão bela?

Tu tens razão para ser triste!

Mas supõe que nunca a amaste,

choremos ambos por ele.